Peço a Deus que conforte o coração de cada familiar e amigo!!!
Relato
Festa
bonita, festa bacana, não é? Olha só quanta gente! A iluminação tá demais e a
banda está realmente um show. Não sou da área VIP, afinal nem gosto disso…
Prefiro ficar aqui na frente, junto com o povão, perto do palco, sempre foi o
melhor lugar pra mim. Mas, de repente, em questão de segundos,
começaram a gritar. E eu, sem entender, nada comecei a gritar também. No começo
pensei ser apenas um alvoroço de um grupo de amigos ou até mesmo uma briga, mas
quando olhei pra cima, vi que tinha fogo, e não parecia fazer parte da
apresentação pirotécnica. Quando me dei conta, estava ali sozinha, minhas
amigas já não estavam do meu lado, e então toda aquela alegria de antes se
transformava em euforia e medo. Naquele momento, toda minha vaidade se perdeu,
sem se importar com nada, tirei o salto, perdi minha bolsa, e sai como uma
louca em direção à porta que entrei. Mas acontece que era praticamente
impossível passar por lá, tinha tanta gente! E cada vez mais a fumaça tomava
conta do local, tudo tava tão nebulado que resolvi tentar outra saída. Nesse
momento já era possível ver pessoas caídas, deviam estar somente desmaiadas,
devido a fumaça - era a minha mais ingênua esperança. Corri para um
corredor junto com outras pessoas que pensavam o mesmo que eu, tinha que ter
uma saída ali, era minha ÚLTIMA chance, não havia mais o que se fazer. Ainda
sem saber aonde estava, escutava gritos ensurdecedores que cada vez chegavam
mais perto, mas as chamas não estavam ali, pensei estar segura. Mas
aquela sala que antes tinha somente algumas pessoas ficou lotada e a fumaça
começou a entrar. Queria sair dali, mas não dava… Fiz o que sempre fazia quando
estava com medo - não ria de mim - mas eu liguei pra minha mãe. Não
escutava nada do que ela dizia, mas eu tentava aos berros dizer pra ela vir me
ajudar, que me tirasse dali, como se ela fosse uma super-heroína que viesse
voando me salvar. Já estava praticamente impossível de enxergar algo e
a respiração ficava abafada. Lembro de ter dito EU TE AMO para minha mãe antes
de desligar o telefone, se é que cheguei a desligá-lo. Como num passe de
mágica, tudo começou a se acalmar… Os gritos ficaram mais baixos e inaudíveis
meu corpo já não sentia dor nem medo, fiquei paralisada e apenas
fechei os olhos, como se fosse dormir. Acho que nesse momento eu
morri, não sei descrever a morte, mas em meio à tanto tormento, ela foi uma
calmaria, sei que nem sempre é assim, mas comigo foi. Em um dia aparentemente
normal, aonde só queria me divertir, com todos os planos pela frente e com o
futuro ao meu alcance, tudo pode acontecer. (Wander Ribeiro)
Dói,
dói de verdade, saber a tristeza que uma irresponsabilidade despercebida está
causando em tantos corações. Quantos pais vão chegar ao quarto vazio de seus
filhos, agora para sempre vazio? Quantos irmãos hoje tiveram que enterrar os
seus caçulas, lembrando da última festa que curtiam juntos? Podiam ser eu e
minhas amigas ali, podiam ser os meus pais chorando, minha família
desmoronando. Amedronta pensar isso… Mas podia. Eu não tenho a ver com todos aqueles
jovens - tão longe mas tão próximos de mim - e, mesmo assim, desde a primeira
notícia que li sobre a tragédia, um vazio se instalou em mim, junto com as
lágrimas que não cessam a cada novo depoimento que leio. Hoje, eu aprendi a dar
valor a segurança nas festas, aos “nãos” que minha mãe me dá. Imagino só…
Quantos braços de namorados e namoradas não estão vazios agora, sem ter tido ao
menos o último “eu te amo”? Quantas amizades foram simplesmente arrancadas e
carbonizadas naquela boate? Quantas lágrimas serão sempre derramadas ao lembrar
da risada daquela garota, que nunca mais será ouvida… Ou os olhos azuis daquele
garoto, que nunca mais brilharão. Não dá pra imaginar… Não dá pra chegar nem
perto da dor que esse fogo vai fazer arder eternamente.